Eu ambiciono por uma felicidade que não existe faz muito tempo. Uma felicidade específica que tem cheiro, gosto, e abraça meu coração com um corpo que eu reconheço. E dói. Pessoalmente, e sendo bastante sincera, não sei lidar com finais. Simplesmente não sei como. Passei muito tempo da minha adolescência recriando as histórias, vivendo-as na minha cabeça como se ainda estivessem acontecendo, conversando sozinha com pessoas que não existem na minha vida. Qualquer coisa, eu faria qualquer coisa pra não lidar com a verdade.
Não posso aceitar que não estou mais na quinta série, estudando com minhas melhores amigas, correndo no intervalo, comprando geladinho antes de entrar pra sala, me importando só com as coisas bobas, chorando ao som de “Amigas Para Sempre, Chiquititas” com medo de não cair na mesma sala que elas e dançando Barbie. Não posso porque, mesmo com os pesares, aquela felicidade era genuína. Aquelas preocupações eram reais, e não parecia que eu havia esquecido metade de mim em um passado vazio.
Esse sentimento me segue por toda a vida, essa coisa de “meu deus, parece que eu esqueci alguma coisa ali pra trás”. Mas o tempo passa. Tudo que existiu agora é nada e existe apenas por esse segundo. Então eu voltaria no tempo, e veria que não tem mais nada lá. Mas ficaria um pouquinho. Só o suficiente pra sentir o cheiro da comida do refeitório, o gosto da gengiva sem dente e a dor do joelho ralado. Sinto muita falta de tudo da minha vida, porque nunca fui capaz de superar nenhuma delas, mas, com o tempo, eu fui tentando me esquecer. Como quem coloca um tapete na mancha do piso. Um piso inteiramente manchado, uma casa com tapetes até o teto. E eu afirmo que a sensação de sufocamento é melhor que encarar a efemeridade da vida.
Eu Me Chamo Antônio é uma música do Versos Que Compomos Na Estrada. Eles dizem: “O amor, o delito. O tempo, o alívio. A dor, o conflito. O cheio, o vazio. O final, o início. No verso, eu existo. Bebo para esquecer meus poemas”. E eu senti isso no fundo do meu estômago, e do meu pâncreas, e da minha alma.
Um dia, vou tirar todos os tapetes da minha casinha, e as manchas vão sair com a circulação de oxigênio (ou talvez elas fiquem, e é isso ai). Apesar de tudo isso, apesar do grande pedaço de “eu” perdido em um passado sem ninguém, ainda tem bastante de mim aqui (e isso é alguma coisa). ❤